A Vida na Austrália e Nova Zelândia – Um Resumo Filosófico

Se um dia você ficou triste porque não conseguiu aquele emprego dos sonhos, saiba que do outro lado do mundo, tem uma pessoa que ganha a vida (e provavelmente não muito mal) sendo piloto de jet boat ou rafting em Queenstown, uma das cidades mais bonitas do planeta, e cuja tarefa mais importante talvez seja sorrir todos os dias para seus passageiros.

Uma das grandes motivações dessa viagem foi ter a feliz oportunidade de fazer um paralelo com exatos 10 anos atrás, quando chegava em Sydney no final de janeiro de 2004, para morar em Melbourne por 6 meses. Eu então tinha 15 anos apenas e estava ávido (e ao mesmo tempo aterrorizado de medo) por conhecer sozinho o mundo. Lembro que a felicidade foi tão grande, tão grande que eu queria que todos meus amigos e família pudessem experimentar o que eu estava sentindo. E ter vindo naquela ocasião para cá me fez ver pela primeira vez como existem incontáveis (eu diria até infinitos) modos de se viver a vida. Se um dia você ficou triste porque não conseguiu aquele emprego dos sonhos, saiba que do outro lado do mundo, tem uma pessoa que ganha a vida (e provavelmente não muito mal) sendo piloto de jet boat ou rafting em Queenstown, uma das cidades mais bonitas do planeta, e cuja tarefa mais importante talvez seja sorrir todos os dias para seus passageiros. Se você acha que fracassou em socializar em uma festa importante com seu chefe, saiba que em Byron Bay deve estar rolando uma festa em que ninguém está se importando com nada, mas apenas em ser feliz e dançar ao som fritado e eletrizante de jazz. Se você está pensando demais em não ter feito nenhum ato de solidariedade nos últimos meses, saiba que existe um país em que as pessoas deixam expostas frutas na rua sem ninguém por perto e confiam que você vai pegar um saco de cereja e depositar 10 dólares no que eles chamam de “honesty box”(sem roubar nem as cerejas nem o dinheiro que está lá).
Enfim, lá em 2004, eu achava que Australia era o melhor lugar para se morar. Como nunca tinha visitado intensamente nenhum outro país, minha única comparação era o Brasil. De lá para cá tive o prazer de conhecer alguns outros lugares, mas nunca essa ideia (sobre o quanto vivemos mal no Brasil) havia voltado para mim. Será que eu fiquei assim em 2004 pela euforia de uma primeira viagem internacional?
E isso me motivava muito para essa viagem, agora em 2014. Será que vivemos bem no Brasil? (parece meio óbvia essa resposta, mas o Brasil possui muitos pontos positivos sim). Será que nosso estilo de vida, unicamente orientado para a competição profissional é o jeito certo?
E infelizmente cada vez me convenço mais de que a resposta é negativa para as duas indagações que eu tinha (e tenho ainda).
Lógico que existem pessoas que vivem bem no Brasil. Lógico que esse estilo de vida orientado para o trabalho é excelente para quem é viciado em trabalho e acha aí sua felicidade. E é claro que eu quero ser um vencedor na vida e vou trabalhar para isso. Mas e quem tem na vida outras prioridades que não o trabalho? Um ambiente extremamente competitivo (em que pessoas com CV com várias pós graduações se tornou lugar comum) como o do Brasil é no final das contas saudável? E se tudo der errado, qual as alternativas para um jovem no Brasil?
E a resposta é mágica (e por ser tão simples parece que é mentira): existem lugares que a vida não é aquela como a que estamos acostumados. Existem lugares em que é muito respeitável o estilo de vida da pessoa que trabalha em uma sorveteria e vai embora as 5 da tarde para fazer outras coisas da vida. Existem pessoas que não perdem 2 horas no trânsito todos os dias só para fazer o trajeto casa-trabalho. Existe um lugar em que se você falhar, sua vida não vai por água abaixo.
E existem lugares no mundo que, se nada do seus planos der certo, você provavelmente vai viver bastante bem trabalhando em uma sorveteria para o resto da vida. Vai conseguir ter seu carro, sua casa e fazer uma viagem grande por ano. E ainda poder educar bem seus filhos, poder andar tranquilo na rua, não ser assaltado quase nunca (ou nunca), poder levar seu cachorro para passear em parques que não ficam insuportavelmente lotados. E nem ter ideia, noção, ou um lapso de imaginação do que é pegar trânsito todos os dias (e perder duas horas por dia então!).
E assim é por aqui. Não há muito o que falar, mas sorte daqueles que se mudaram para cá.

Abraços!

PS: Falando em maneiras diferentes de se ganhar a vida, você já deve ter ouvido falar do Matt. Hoje ele é patrocinado pela Visa e tem passagens gratuitas para todos os lugares do mundo. Seguem vídeos dele.

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